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terça-feira, 25 de março de 2014

REFLEXÃO


Compreendi aquele instante de hermética reflexão,
Em que estava aquele homem na minha frente a procurar.
No silêncio dos meus passos, amorteci a pulsação,
Impelindo na ação, cautelosa a observar. 

Deparei-me com seus olhos percorrendo as mobilias
Na poeira impregnada sob a mesa de jantar.
Seu semblante sossegado alastrava nostalgia.
Não veria semelhança em nossa forma de sonhar.

Sua mente alforriada percorria a imensidão,
Desatando as correntes e o teto a sufocar.
Salivava descontente o sabor da solidão,
Impregnado no seu corpo o desgosto de gostar. 

Emudecido suspirava a canção do desamor,
Orquestrando o silêncio das paredes decompostas,
Empoeirada sua alma desusada, sem valor,
Enterrado no oculto da miséria preciosa. 

Constrangi-me a observá-lo em momento tão distinto
De meditação, vivência, demência e concentração.
Recolhi a eloquência, abandonei-o a seu jazigo
E parti tão mais sozinha ao deixar-lhe a solidão.  


(Vanessa Rodrigues) 

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